Acompanhe uma série de reportagens do projeto ‘Pesca de resíduos na Baía de Guanabara’
Desde abril, a segunda fase do projeto ‘Pesca de resíduos’ tem apoiado 25 famílias de pescadores na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, para retirar resíduos da Baía de Guanabara, gerando renda e reciclando parte dos resíduos plásticos coletados e classificados. Para mostrar o progresso desse trabalho socioambiental, damos início a uma série de reportagens com a intenção de mostrar detalhes e histórias do projeto. Nesse primeiro texto, vamos analisar quanto resíduo e quais tipos de materiais já foram ‘pescados’.
“Praticamente, não se consegue pescar nada do mar. Os pescadores saem e, quando voltam, o resultado da pesca hoje não paga nem os custos de combustível dos barcos. O projeto tem sido a fonte de sustento deste grupos. Isso é muito importante, porque além do impacto ambiental, o projeto tem um fator de inclusão social muito forte.”
Pedro Succar, especialista em economia circular da BVRio.
No início de agosto, quatro meses se passaram do início da segunda etapa do projeto ‘Pesca de resíduos na Baía de Guanabara’, realizado pela BVRio em parceria com a empresa social italiana Ogyre. Previsto para durar 12 meses, os pescadores já retiraram do mar e dos manguezais mais da metade da meta estabelecida. Já foram pescadas quase 53 toneladas de resíduos sólidos do total de 100 toneladas esperadas ao fim dessa fase do projeto (gráfico 1). Duas vezes por semana, 20 pescadores saem pela manhã cedinho em 10 barcos a remo e voltam por volta da hora do almoço tendo coletado, em média, 1.374 kg por dia, 38% acima da meta.
Os tipos de resíduos retirados são bem variados. Os pescadores coletam desde pequenos objetos de plástico, que pesam poucas gramas, até pesadas peças de mobílias inteiras, como sofá e camas. Retornando do mar, todo o resíduo é separado, pesado, fotografado e registrado pelo app KOLEKT, com a ajuda das comunidades locais (Colônia Z10 e Praia de Bancários na Ilha do Governador). O uso do aplicativo é fundamental para dar e manter a transparência de todo o processo, e gerar confiança ao financiador do projeto que, mesmo de outro país, consegue acompanhar tudo online. O aplicativo também facilita o rastreamento, o monitoramento e as análises.
Graças ao KOLEKT, é simples verificar a distribuição dos resíduos coletados por tipo de material. O gráfico 2 mostra que as espumas e os chinelos são os itens mais encontrados na pesca, representando 40% do total retirado. As espumas são derivadas de estofados de sofá, restos da almofada e colchões que são descartados no mar. Chinelos e calçados em geral são encontrados em quantidades absurdas, um capítulo à parte que será relatado nesta série.
Os resíduos plásticos e sua grande variedade de formas, tamanhos e rigidez não foram os materiais mais encontrados, mas o terceiro, em torno de 18% do total coletado até agora. Apesar do alto consumo e descarte de plástico nos oceanos, ainda é baixo o percentual de plástico coletado, que pode ser reciclado.
Os resíduos plásticos coletados pelos pescadores na Baía de Guanabara estão sempre muito sujos e deteriorados, o que evidencia a gravidade do problema. O plástico no oceano se decompõe paulatinamente, torna-os difíceis de capturar. Quanto mais tempo permanecerem no mar, mais se deteriora, até se decompor em microfragmentos.
Os tecidos, por sua vez, representam 12% do resíduo coletado. Contudo, os tecidos sintéticos, como o poliéster e o náilon, também são derivados de plástico e soltam partículas de microplásticos nos mares. A indústria da moda deve administrar seus impactos ambientais, já que a atual super produção de roupas contribui diretamente com a poluição dos oceanos.
“Muitas vezes, não percebemos o impacto quando ele está distante. Ver esse trabalho de perto, para mim, carioca, e para a BVRio, criada aqui no Rio, é perceber que estamos realizando um projeto com um real impacto global no oceano.”
Maurício Moura Costa, Presidente da BVRio.
Os pescadores ainda encontraram vidro, resíduos eletrônicos, metais, borracha e outros (Tabela 1). A comunidade tem empenhado grande esforço na classificação dos resíduos, já que muitas vezes os objetos encontrados são compostos por vários materiais. Os itens classificados como ‘outros’ são aqueles que tem uma proporção equivalente de diversos materiais, como sofá, composto por tecido, espuma, madeira, ferro, plástico, etc. Espantosamente, sofás são encontrados todos os dias pelos pescadores.
O próximo artigo da série vai relatar as dificuldades e perigos da pesca desses grandes tipos de resíduos, abundantes na Baía de Guanabara. Não perca!