Em junho, a BVRio concluiu um projeto piloto de 18 meses financiado pela Prevent Waste Alliance que beneficiou dez cooperativas de catadores no Brasil e uma rede mexicana de catadores através da emissão de créditos circulares. O projeto também apoiou o desenvolvimento da Plataforma de Ação Circular e do Mecanismo de Créditos Circulares (CCM), além de possibilitar os primeiros testes do aplicativo KOLEKT, desenvolvido pela BVRio, como uma ferramenta de monitoramento da cadeia de reciclagem.
No total, os créditos circulares emitidos através do projeto pagaram pela recuperação de 1562.5 toneladas de resíduos plásticos às cooperativas brasileiras e 148.45 toneladas para catadores autônomos no México. Todo o projeto foi auditado de forma independente, assegurando que as iniciativas participantes cumprissem com os Princípios do CCM.
Um aspecto muito importante do projeto foi emitir créditos para qualquer tipo de plástico coletado. Os dados do projeto indicam que vários tipos foram recuperados: PET (incluindo os denominados “óleo PET”), PEBD, PEAD, PS, PP, PVC, “Poly” (metacrilato de metila), e outras descrições genéricas, como “filme plástico”, “plástico duro”, “plástico fino”, “saco plástico”, “sucata plástica”, e “placa de raio-x”. Isto é relevante porque apenas poucos tipos de plástico têm um bom valor de mercado para os catadores. Neste caso, os créditos circulares ofereceram um incentivo único para que os catadores continuassem ou começassem a coletar e classificar todos os tipos de resíduos plásticos para reinseri-los na cadeia de reciclagem.
O projeto trouxe benefícios para cerca de 350 catadores envolvidos, ajudando a melhorar suas condições de trabalho, com destaque para aumento da segurança e renda. A emissão dos créditos circulares gerou recursos adicionais para as cooperativas de catadores participantes do projeto. Elas disseram que além de remuneração extra, compartilhada igualmente entre os catadores, os recursos foram gastos com equipamentos, aluguel, serviços contábeis e legais, e caixa.
“O crédito da BVRio entrou em dezembro e já pode ajudar bastante a cooperativa. Conseguimos manter o pagamento dos impostos em dia, aumentamos em 50% a remuneração de cerca de 30 cooperados que trabalham como catadores e na triagem, instalamos ventiladores para a área da triagem no galpão e reformamos as nossas instalações elétricas.” Coopama, Brasil.Leia mais
Segundo o presidente daCoopgaleão, Carlos Eduardo de Oliveira Félix, muitas melhorias foram feitas com o pagamento recebido pelos créditos circulares. Eles alugaram uma esteira para triagem, fizeram melhorias no ambiente de trabalho para os funcionários, como a compra de um microondas além de oferecer renda adicional aos cooperados e criar um fundo de manutenção para os equipamentos. Coopgaleão, Brasil. Leia mais.
No México, uma das catadoras participantes disse que o projeto “serviu para conseguir uma vida melhor para minha filha”. Eleno Ulloa, outro catador, concordou, afirmando que o projeto gera “um impacto muito positivo porque ajuda as pessoas de baixa renda”. Alessa Araiza, coordenadora da Circular de Bahía disse: “Quando fizemos a entrega dos créditos, também oferecemos Equipamentos de Proteção Pessoal que dignificam a vida e o trabalho dos catadores de recicláveis”. Assita ao vídeo onde eles contam mais sobre o projeto.
Durante o período do projeto, conversamos com mulheres inspiradoras que lideram algumas das cooperativas de catadores participantes, e elas nos falaram dos desafios que enfrentam, suas aspirações e esperanças para o futuro.
“Cooperativa é um espaço para promover a sororidade”, disse Iara Meiri de Melo Moura Silva, 40 anos, é líder da Cooperativa Beija Flor, no Rio de Janeiro. Mãe de dois filhos, começou a trabalhar no mercado de reciclagem há mais de 20 anos com sua mãe, que veio do Nordeste para o Rio de Janeiro aos 17 anos de idade. Hoje, Iara é uma das líderes da cooperativa Beija Flor, no Rio de Janeiro. Por trás do amor pela profissão, a história da Iara é de força e inspiração para a família que trabalha unida, passando o ofício para outras gerações. Leia a história de Iara.
“A reciclagem foi uma oportunidade de trabalho no bairro de Jardim Gramacho, onde quase 40 mil pessoas dependiam do lixo para viver. Gerações inteiras viveram do lixão por mais de 30 anos. Mais de 10 mil toneladas eram despejadas todos os dias no maior lixão da América Latina”. Clarisse Aramian, co-fundadora da Cooper Ecológica.. Leia o depoimento de Clarisse.
Glória de Souza dos Santos, 45 anos, é uma grande líder na comunidade onde vive e fundou a cooperativa ACERJ em 2019.Nascida em uma família tradicional de catadores de lixo no Rio de Janeiro, Glória trabalha há mais de três décadas no mercado de reciclagem. Foi criada em Laureano, bairro do Jardim Gramacho, o maior “centro de reciclagem do Estado do Rio de Janeiro”, onde junto com sua mãe e irmãos aprendeu a complexa tarefa de separar dezenas de materiais que chegavam ao “aterro controlado” no município de Duque de Caxias. Leia mais sobre o trabalho da Gloria.